CRÔNICA - O COTIDIANO EM PAUTA

 


Um dos gêneros textuais que mais se aproxima da nossa vida cotidiana. Aliás, você conhece o gênero "crônica"?

A crônica é um gênero muito antigo. Em seu surgimento, ela era utilizada para relatar acontecimentos em sequência temporal. Com o tempo, o gênero se modificou e ampliou suas características, tornando-se, também, um gênero poético, crítico, reflexivo ou humorístico, por exemplo. Assim, podemos dizer que a crônica é um pequeno texto que registra fatos da vida cotidiana, por meio de um olhar artístico ou argumentativo.
Um cronista pode narrar um fato que viu ou viveu. Por exemplo, ele pode falar sobre uma atitude tomada pelo atendente do caixa da padaria, ou pode falar sobre a sua resposta (do cronista) a esse comportamento. Após fazer o pequeno relato, o autor vai expor uma interpretação pessoal sobre o acontecimento, tentando mostrar um detalhe quase imperceptível.
A crônica é um gênero textual híbrido, ou seja, apresenta uma mistura entre diferentes características textuais, por exemplo:
pode ser mais jornalística, quando se concentra na representação dos fatos;
pode ser poética, quando apresenta uma linguagem simbólica e lírica;
pode ser crítica/reflexiva, quando apresenta opiniões pessoais do autor, e
pode apresentar mais de um desses tipos.

a crônica é um gênero curto com características narrativas, descritivas e argumentativas. Ela apresenta pequenas histórias, seguidas de uma interpretação pessoal do autor; utiliza a descrição para caracterizar espaços, personagens e outros elementos que sejam importantes para o texto; e usa a argumentação quando deseja defender um ponto de vista.

Vamos observar um exemplo de crônica?

A bola

O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola.

O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse “Legal!”. Ou o que os garotos dizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.

— Como é que liga? — perguntou.

— Como, como é que liga? Não se liga.

O garoto procurou dentro do papel de embrulho.

— Não tem manual de instrução?

O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos são decididamente outros.

— Não precisa manual de instrução.

— O que é que ela faz?

— Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela.

— O quê?

— Controla, chuta...

— Ah, então é uma bola.

— Claro que é uma bola.

— Uma bola, bola. Uma bola mesmo.

— Você pensou que fosse o quê?

— Nada, não.

O garoto agradeceu, disse “Legal” de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame. Algo chamado Monster Baú, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de bip eletrônico na tela ao mesmo tempo que tentavam se destruir mutuamente.

O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina.

O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu equilibrar a bola no peito do pé, como antigamente, e chamou o garoto.

— Filho, olha.

O garoto disse “Legal”, mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as mãos e a cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro de couro. A bola cheirava a nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boa ideia, pensou. Mas em inglês, para a garotada se interessar.


Vocês conheciam essa crônica?


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